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segunda-feira, 27 de junho de 2005

Merda no Ventilador e cabo de guerra por um fio!

Com respeito ao que foi escrito em meu texto anterior (Veja aqui), quero rever algumas idéias que atingem diretamente meus colegas do projeto e que, se não revi, anteriormente, se deveu ao fato de não ter tido tempo nem de reler o que havia escrito. Costumo rever alguns textos, mesmo após publicá-los. A indignação manifestada pelos meus colegas é mais que justificada, embora não as tenham manifestado nos comentários do blog.

Começo pelo fim, o P.S. quando faço exigências... realmente não estava sendo nada realista. O meu lugar de professor não permite, há muito tempo, fazer qualquer exigência. Como fazê-lo, quando, na minha escola, faltam, só no turno vespertino, em média, desde o início do ano, afastados por *laudo licença médica, 5 professores, fora os que se ausentam aqui e ali por alguma legítima razão. Os professores do projeto, ainda que sustente a tese de que tenha condições mais favoráveis, não poderiam fazer seu difícil e inovador trabalho sem elas. O que me causa estranheza, e daí a indignação que me levou a ser injusto com os colegas do projeto, é o fato de que não há a mesma sensibilidade dessa gestão para com os professores das turmas regulares, quando não atendem uma antiga reivindicação de, pelo menos, criar um banco de professores que substitua os colegas em *laudo licença médica. Isso, somado a outros fatores que enumero no mesmo texto já dá pra tirar o juízo e bom senso de qualquer um que seja minimamente compromissado com o fazer pedagógico. Mas não fica por aí, o que me causa ainda mais espécie e me dá nos nervos, é o fato de sermos, ostensivamente, acusados de não sairmos do nosso lugar queixoso. Essa indignação que meus colegas sentiram com respeito a minha infeliz comparação, nos assalta quase todo dia, e eles sabem disso, pois vivem o mesmo drama nas suas escolas. O que me chateia, é o fato da prefeitura usar essa experiência como uma justificativa para desmerecer o trabalho regular (que já não é fácil) e eliminar e não reconhecer muitos projetos que, mesmo desenvolvidos em condições precárias e sem apoio oficial, são indispensáveis ao cumprimento da missão que a escola se propõe. Com respeito a isso, posso dizer que o projeto que levei adiante, a que me refiro no texto, jamais teria sido desenvolvido e não teria tido a compreensão e colaboração dos colegas sem o momento da reunião pedagógica, em que pude colocá-los a par do que estava sendo feito. Mesmo assim, a diretoria só teve a real noção do que foi realizado, quando exibi o curta-metragem na formatura dos alunos. Somado a isso, outras tantas atividades foram desenvolvidas no ano passado na EMDO: três festivais com diversas apresentações de professores e alunos, festa junina, uma orquestra de flautas, o coral, entre outros, tudo isso graças a esse momento que permitia avaliar os problemas da semana e amortecer na coletividade as dificuldades do dia-a-dia.
Lamento que tenha sido tão injusto com meus colegas do projeto, que se esforçam para enfrentar os problemas que esses alunos, em risco social, alvo do projeto do 3º Ciclo, que, sem a estrutura que é oferecida a eles jamais poderiam enfrentar essa missão.

Realmente, esses alunos nem estariam na escola, se não houvesse uma abordagem diferenciada de seus problemas e isso está sendo feito, também, ainda que intuitivamente, por nossos colegas nas turmas regulares. Porém, reconhecemos que não conseguiremos motivar esses alunos, se não houver a complementação de um projeto como o do 3º Ciclo na escola.

Reconheço, por outro lado, que não me esforcei no sentido de obter uma maior sintonia com o grupo, daí o equívoco, em virtude da ausência nas últimas reuniões do projeto, dado o desânimo que me assaltou, o período anterior e pós-greve. Mas não foi isso que me levou a pagar esse mico. É que minha identidade com esse grupo está em franca disputa com a identidade que tenho com a EMDO, daí essa reação enciumada. É que não acho justo que se acabe com a reunião pedagógica, em que, se o aluno perde 2 horas de aula semanais, ele as ganha em qualidade, dada a construção coletiva das ações implementadas na escola. Não consigo entender o porquê de não se garantir esse espaço de socialização dos problemas que, no projeto, também irá acabar. É mais do que evidente que, acrescentadas essas 2 horas semanais, isso não irá melhorar o ensino dos alunos. Não houve o tão esperado salto de qualidade quando se aumentou o número de aulas de 180 dias para 200.

Vou à loucura quando a comissão que negocia com o nosso sindicato propõe a avaliação do desempenho de nossos alunos através do SIMAVE, e isto como um termômetro adequado para avaliar o desempenho dos professores, ignorando outras formas e parâmetros de avaliação e as particularidades das escolas e do modelo de escola adotado. É perverso incentivar uma abordagem intimista do ensino, procurando atacar os problemas pelo viés da sociabilidade e avaliá-lo quantitativamente, somente pelo seu viés conteudista. Principalmente quando a cliente-la que se pretende atender tem um grau de frustração muito grande, dadas as desigualdades sociais com que lidamos nesse país. Desigualdade e não pobreza, quero ressaltar.

Contudo, mesmo assim, tenho me esforçado para que o projeto dê certo e considero os que, infelizmente denominei ?privilégios?, indispensáveis para o seu sucesso. Acontece que não concordo que não se tente uma abordagem que privilegie também a aquisição de conteúdo. É que a formação que os professores vêm tendo, ultimamente, permite uma abordagem de ensino que não se atenha apenas na alfabetização, já que alunos, como os atendidos pelo projeto, do terceiro ciclo, não respondem a atividades calcadas apenas nessa abordagem. O que é preciso desenvolver, e esse grupo tem potencial para fazê-lo, é aproveitar o espaço de interlocução que as atividades do projeto permitem desenvolver para oferecer desafios que motivem eles a enfrentar melhor suas inerentes dificuldades no campo da escrita, da leitura, do desenvolvimento psicomotor, da compreensão do mundo, das operações, etc. Mas isso, como forma de se criar um hábito, de forma um pouco mais ostensiva, que justifique um acompanhamento menos solto e uma tutela mais firme na condução das atividades pedagógicas com objetivo de obter uma melhor desenvoltura desse aluno na vida escolar. Tal abordagem, acredito, retirada às reiterações de sua condição desprovida, podem conduzi-lo, sem que se incorra no risco de aprofundar, ainda mais, a desmotivação que a baixa auto-estima desses alunos provoca.

Porém, me causa desânimo perceber que a nossa gerência perca tanto tempo em lidar com nossos escorregões e não procure valorizar e incentivar nossos acertos e conquistas, com igual intensidade. Mais triste ainda, é ver colegas pedirem a minha retirada do projeto com o argumento de que ando muito confuso, pois não pareço acreditar nele. Não é o caso. Não costumo ser radical nos meus posicionamentos, a ponto de me colocar na posição de alguém infalível, mas na condição de alguém que se antagoniza a uma prática e teoria, com o fim de motivar o movimento dialético que busca uma compreensão maior do ato de educar, cujo objetivo é alcançar uma prática que promova o aperfeiçoamento constante do projeto.
De qualquer forma, fico feliz com o encaminhamento dado, que preservou a autonomia da EMDO em decidir o destino do projeto, sua aquiescência ou não. Já é um grande avanço. Ficando ou não nesse projeto, eu faço votos que ele alcance seus objetivos e que tantos outros, como esse, tenham também o seu lugar garantido.

Peço, portanto, desculpas, pelo tom nada cordial de parte do texto, apesar do contexto.

De qualquer forma, somos vítimas e algozes de uma cultura perversa que tende a valorizar mais o que temos do que dar o devido valor ao que fazemos e a polemizar mais pelo que, momentaneamente, dizemos que por aquilo que, efetivamente, somos.


* errata

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