Olá, todos!
Para vocês que ainda se ocupam com Educação nesta cidade, posto aqui um texto publicado na Folha, e que me foi enviado pelo Dalvo. Este texto se insere no contexto de fechamento de turmas, de turnos e até de escolas, devido a ALEGADA falta de alunos. A última vítima é o noturno da E. M Mestre Paranhos. Os docentes foram COMUNICADOS da decisão de Vocurca, Zamara e cia em reunião na última quarta.
Eles não se perguntaram e então perguntamos nós: Por que faltam alunos? Por que nossos estudantes somem e viram estatísticas? O que não encontraram na educação municipal e que deveriam encontrar?
O que sempre denunciamos enquanto servidores e cidadãos está denunciado também no presente texto: a ausência de políticas ousadas para enfrentar a falta de qualidade na educação; a negativa da PBH de enfrentar os problemas ligados a disciplina e a violência de forma sistemática e racional, sem responsabilizar unicamente os docentes; a inexistência de diagnóstico quanto as reais causas da evasão.
Até quando vamos continuar contando as vítimas e contabilizando os prejuízos?
Eis o artigo (as maísculas são destaques de Dalvo e achei por bem respeitá-los):
São Paulo, quinta-feira , 20 de novembro de 2008.
TENDÊNCIAS / DEBATES
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
JORGE WERTHEIN e MIRIAM ABRAMOVAY
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FALTAM POLÍTICAS PÚBLICAS CLARAS , PROGRAMAS EM EXECUÇÃO QUE ENFRENTEM DECIDIDAMENTE O COTIDIANO DE VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS .
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Temos avançado significativamente na nossa capacidade de diagnosticar , prever e entender diferentes fenômenos que se apresentam no cotidiano . As novas tecnologias de informação e comunicação disponíveis nos permitem detectar e identificar fenômenos naturais com grande precisão e antecedência .
Em diversas áreas os progressos têm sido - e continuam sendo - notáveis . Os mecanismos existentes de detecção e diagnóstico da realidade nos permitem antecipar alguns possíveis "tsunamis" naturais e sociais . Porém , é preciso ter consciência do potencial dano ocasionado ainda que o problema seja diagnosticado.
MUITAS VEZES , AO CONHECER A REALIDADE APONTADA, NEGAMOS OU ESCONDEMOS A SUA EXISTÊNCIA , FAZEMOS A CHAMADA " POLÍTICA DE AVESTRUZ " OU A LEI DO SILÊNCIO . Com essa atitude , não só não encaramos o problema como não conseguimos evitar que ele se repita com conseqüências cada vez mais graves , QUE VÃO SE MULTIPLICANDO E SE AGRAVANDO, TORNANDO, ASSIM , SUA SOLUÇÃO MAIS DIFÍCIL .
ESCONDER DEBAIXO DO TAPETE SITUAÇÕES OBJETIVAMENTE GRAVES É UMA CONSTANTE .
Tanto no âmbito privado quanto no público .
Racionalizamos, elaboramos discursos que analisam o tema para nos tranqüilizarmos. Dizemos o certo , o correto , o indiscutível , embora imediatamente nos imobilizemos, nos acomodemos quase que confortavelmente na coerência teórica de tais afirmações.
DEIXAMOS PARA AMANHÃ O QUE PODERÍAMOS TER FEITO E ENFRENTADO HOJE .
Agora , voltamos a ver um novo caso de violência nas escolas que ganhou amplo espaço na mídia . Temos cotidianamente outros exemplos , não tão dramáticos , que não são veiculados ou permanecem restritos a jornais locais e rádios comunitárias.
AS VIOLÊNCIAS FÍSICAS E SIMBÓLICAS ESTÃO INSTALADAS, EM MAIOR E MENOR INTENSIDADE , NAS NOSSAS ESCOLAS .
Depois de tantos anos trabalhando sobre os temas de violências nas escolas no Brasil e em outros países da América Latina , continua nos chamando a atenção à relativa importância ( para não dizer pouca ) que se dedica ao assunto .
FALTAM POLÍTICAS PÚBLICAS CLARAS , PROGRAMAS EM EXECUÇÃO QUE ENFRENTEM DECIDIDAMENTE O COTIDIANO DE VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS .
VERIFICA-SE GRANDE LIMITAÇÃO POR PARTE DAS AUTORIDADES POLÍTICAS E EDUCACIONAIS PARA ASSUMIR COM DECISÃO , CORAGEM E DETERMINAÇÃO O ENFRENTAMENTO CUIDADOSO DE UM PROBLEMA QUE ESTÁ TENDO ENORME EFEITO NEGATIVO NO COTIDIANO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE JOVENS E CRIANÇAS .
Isso está enfraquecendo as relações de convivência entre alunos , professores e demais atores sociais que atuam nesse espaço escolar . POR CAUSA DISSO, ESTÁ DIMINUINDO DE FORMA ACELERADA E ALARMANTE , TANTO PARA ALUNOS QUANTO PARA PROFESSORES , O DESEJO DE IR À ESCOLA , QUE DEIXA DE SER UM ESPAÇO PRAZEROSO .
A PREOCUPAÇÃO NÃO PARECE SER ENTENDER O PORQUÊ DESSES ALTÍSSIMOS NÍVEIS DE VIOLÊNCIA DENTRO DO ESPAÇO ESCOLAR . As possíveis respostas , em geral , não começam baseadas em um diagnóstico da realidade , mas em generalidades aparentemente eloqüentes , vistosas e comprovadamente ineficientes . A automedicação raramente tem efeitos positivos e duradouros .
NÃO HÁ INTENÇÃO DE DIALOGAR COM PROFESSORES , ALUNOS , DIRETORES E PAIS , POR MEIO DE MECANISMOS SISTEMÁTICOS E CIENTÍFICOS , PARA QUE SEJAM ELABORADAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE LONGO PRAZO .
É um equívoco dizer que a resposta é o aumento de câmeras de vigilância , catracas para " expulsar os culpados" ou ampliar a presença das forças de segurança dentro das escolas . Isso é não querer entender o problema em sua real e profunda dimensão . Não é essa a forma adequada de usar as tecnologias para detecção de problemas .
Expulsando os esporádicos responsáveis pela violência , não estaremos expulsando as causas que a originam dentro das escolas .
TEMOS DE EXPULSAR AS RAZÕES QUE LEVAM ÀS SITUAÇÕES CONSTANTES DE VIOLÊNCIA PARA QUE ALUNOS , PROFESSORES , DIRETORES E PAIS VOLTEM A SENTIR O PRAZER DE ESTUDAR , APRENDER E CONVIVER NESSE ESPAÇO EM QUE DEVEM SE FORMAR OS CIDADÃOS DE HOJE E DE AMANHÃ E A ESCOLA POSSA SER , COMO DIZIA PAULO FREIRE, UM ESPAÇO DE FELICIDADE .
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JORGE WERTHEIN, 67, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla ( Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana ). Foi representante da Unesco no Brasil.
MIRIAM ABRAMOVAY, socióloga, é coordenadora de Pesquisa da Ritla, integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Juventudes , Identidades e Cidadania e consultora da Cufa-DF ( Central Única das Favelas do DF)."
Prof. Geraldinho.
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