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terça-feira, 10 de outubro de 2006

Os Presidenciáveis Não Foram à Escola?

Os Presidenciáveis Não Foram à Escola?

PAULO GHIRADELLI JR

Jornal O Estado de São Paulo

Sábado, 7 de outubro de 2006

Educação é uma coisa, pedagogia outra. Nesse segundo turno, os candidatos Presidência poderiam mostrar preparo político fazendo tal diferenciação. Em vez de falar sobre índices educacionais, seria melhor contar o que pensam que deveria ocorrer dentro da escola. O eleitor não tem tempo e condições de anotar e checar índices. Seria interessante ouvir os dois candidatos à Presidência a respeito de métodos pedagógicos, de como que deve ser a relação professor-aluno, de como que teria de ser a alfabetização. Isso é que nos daria condições de sair do blá-blá-blá da frase "no meu governo a Educação terá prioridade". Esse tipo de frase ninguém mais agüenta escutar.

Um candidato à Presidência que tem filhos e ele próprio passou pela escola ? alguma escola ? não precisa ser especialista em educação para mostrar que conhece a escola brasileira e sabe o que quer dela. Não é possível que não seja capaz de dizer, por exemplo, que tipo de cartilha gostaria de ver em nossas escolas. Não é normal que não seja capaz de dar o número máximo de horas de trabalho do professor, de modo que ele não se esgote. Não é nada útil que não consiga dizer quantas horas devem caber ao ensino do inglês na escola pública. Não é correto que não saiba quantos livros um jovem deve ler por ano no Brasil, para que possamos nos aproximar mais ou menos da prática de leitura do norte-americano ou do chileno. Esses não são detalhes bobos. São elementos que um Presidente deve saber tanto quanto ele teria de saber o preço do pão francês na padaria da esquina ? coisa que Eduardo Suplicy, quando se candidatou a Prefeito de São Paulo, não soube dizer. Pois quando um

Presidente mostra que se interessa realmente em ser uma pessoa normal, e as pessoas normais sabem esse tipo de coisa, ele já estará nos contando como irá escolher seu Ministro da Educação.

Não aceito que o Presidente da República possa ser um simples gerente na indicação de ministros. Até bem pouco tempo, não era assim. Até bem pouco tempo, quando os candidatos não eram capazes de dizer isso que cobro, ao menos faziam indicações de seus ministros antes mesmo da eleição, para que pudéssemos ter uma visão geral dos quadros competentes de seu partido. Como que chegamos a um segundo turno em que tudo isso, ganho em vinte suados anos de democracia, foi jogado fora?

É claro que não basta mais o candidato querer atender esse meu pedido dizendo que vai fazer "escolas de tempo integral". Ora, essa quase-invenção de Darcy Ribeiro para Brizola, copiada por Collor e, depois, generalizada na boca de todo tipo de candidato, não diz nada. Qualquer um é capaz de falar tal coisa e, enfim, não realizar. Ou fazer como os citados, que tentaram construí-las, mas em detrimento das redes escolares já existentes. O que seria necessário ouvir de Alckimin e Lula é o seguinte: quando estiveram na escola, guardaram algo que, agora, como Presidente do nosso país, acreditam que deve mudar para que as crianças, os professores e os funcionários da escola possam de fato impulsionar nossa educação? Esse lado humano, real, deveria estar presente nesses candidatos, pois eles já não são mais iniciantes e o nosso país não é formado por uma massa de idiotas. Os governantes sérios, no mundo todo, fazem questão de opinar sobre o "miúdo pedagógico", pois é neste caso

que se fica sabendo se há de fato apreço deles pela escola.

Alckimin e Lula deveriam admitir especificamente onde erraram e onde estão pensando consertar. José Serra nem tomou posse e admitiu que o PSDB fez uma política educacional para o Estado de São Paulo que necessita alguma correção. Não negou a Quércia o direito de criticar algo específico do campo pedagógico, como o caso da já insuportável "progressão continuada" nas escolas de São Paulo ? uma prática que o Governo Federal, nas mãos do PT, parece aprovar. Mas se isso é para ser alterado ? como é o desejo de pais e professores ? como então haverá uma compensação para que não ocorra a evasão escolar, tão perigosa para um país como o nosso, onde o crime organizado e o narcotráfico ficam esperando cada criança que sai da escola para ganhá-la para suas fileiras?

Alguns gostam de falar mal dos Estados Unidos e dizer frases do tipo "Bush é um tonto". Mas, na verdade, Bush não é um tonto quando o comparamos com o que temos. Pois Bush, quando da implantação do "No Child Left Behind", percorreu o país explicando em detalhes o novo programa educacional, tentando angariar apoio dos democratas para o que então acreditava ser um bom plano pedagógico para as crianças americanas. Há amigos meus que são ferrenhos críticos do tal programa. Mas essa não é a questão. A questão é que Bush convenceu o senador democrata Ted Kennedy a lutar pelo programa educacional e pedagógico republicano, e Bush fez isso mostrando as vantagens do programa na medida em que sabia bem sobre seu funcionamento. Educação, para os americanos, é importante sim, e eles não ficam na conversa fiada resumida na frase "a educação será prioridade em meu governo", coisa que aqui até o "candidato da Educação" ? Cristóvam Buarque ? não soube ultrapassar. Aliás, no Brasil alguém

se nomeia "candidato da educação" e pronto, não precisar dizer a que veio.

Lula e Alckimim passaram por escolas, sentaram em bancos escolares quando crianças. Será que não sabem dizer nada dessa experiência para, agora, como Presidentes, poderem utilizar? Será que foram alfabetizados apenas soletrando a palavra "mensalão" e "dossiê"? Se for assim, estamos perdidos.

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo e escritor

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