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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Discutindo o texto abaixo: "Aprovar quem não aprendeu?"

Pessoal,Vamos discutir esse texto abaixo?!

Aprovar quem não aprendeu?


A tese que esse texto defende, baseado no estudo a que se refere, de que a "aprovação automática" é um mal menor que a reprovação me parece falaciosa.

Primeiro porque o autor parte do raciocínio aparentemente periférico no seu texto e certamente preconceituoso, que é a tese de que lança mão a atual gestão da SMED para negar todas as licenças para mestrado e doutorado, de que os trabalhos acadêmicos, em sua grande maioria, são um amontoado de bobagens e de que só alguns poucos trabalhos realmente são significativos. Ora, essa visão maniqueísta da função da pesquisa como algo que deve ser imediatamente útil e prático ignora intencionalmente dois aspectos muito importantes da essência de uma pesquisa e da produção de conhecimento:

O primeiro aspecto é de que muitas pesquisas são isso mesmo - uma luz de pirilampo - não brilham e nem parecem ter grande importância, mas associadas à outras luzes de outros pesquisadores insignificantes vão iluminando um caminho antes ignorado e esclarecendo aspectos que um dia podem mudar nossa visão e prática arraigada de algo como a "bomba" ou "reprovação". Foi preciso que muitos estudos insignificantes e que nem versavam sobre o assunto, a educação, demonstrassem que o aprendizado se dá por outros mecanismos que o da coerção e que esse mecanismo anacrônico da reprovação estava servindo como instrumento, muitas vezes, para a escola selecionar o aluno que de coagi-lo a estudar. Assim, foi preciso que pesquisas como uma hipotética e insignificante idéia de um doutorando estudar o "o uso de artigos definidos e indefinidos pelos falantes de uma variante do português numa dada tribo indígena" para que outros pesquisadores, fazendo estudos correlacionados, se dêem conta de que o aprendizado de uma língua envolve diversas questões antes ignoradas e que o seu ensino pode se dar de outras formas diferentes, com outro ritmo, tempo, prioridades. É graças a essas pesquisas, aparentemente insignificantes, fruto de elucubrações acadêmicas tolas, inúteis, que se pode demonstrar que uma coisa aparentemente simples de se aprender como o uso formal "correto" dos artigos envolve problemas e conhecimentos complexos da língua antes ignorados, pois o falante os ignora em estágios iniciais, já que a língua de partida do aluno tem um uso bastante diferenciado da variante padrão da língua final, e que, portanto, talvez se deva mudar a forma de ensinar as línguas.
Além disso, esse tipo de pesquisa, aparentemente hermética e inconveniente, pode nos levar a pensar em outras forma de ver a realidade, como ocorre em uma dada língua, que não me lembro agora qual, em que o futuro é representado como algo que está atrás de nós e o passado na nossa frente. Isso seria interpretado até a década de 50 como uma ingenuidade, um primitivismo por antropólogos. Acontece que os falantes dessa língua pensam que o passado é algo que já se vivenciou, portanto pode ser visto, daí ele estar representado como algo que está diante dos nossos olhos e que o futuro é uma incógnita, portanto está nas nossas costas, pois não podemos prevê-lo. Então,a doideira inútil de um pesquisador que teve o desplante de usar verba pública para estudar uma variante de uma língua praticamente morta e falada por uma população economicamente insignificante lançou uma luz de pirilampo que põe em cheque uma visão estática de mundo e abre possibilidades para novas interpretações e métodos que corroboram com essa tese de que não devemos simplesmente reprovar um aluno que não sabe usar os artigos em língua portuguesa, talvez devêssemos apenas mudar a forma de abordar esse ensino ou até não exigir mais que se aprenda isso para iniciantes. Dizer que uma pesquisa é válida ou não é desconhecer que a Teoria da Relatividade de Einstein jamais teria sido formulada sem os pequenos erros e acertos de pessoas que viveram muito antes de Einstein existir. Foram esses visionários amalucados, sem instrumentos estatísticos adequados, que não chegaram lá, que prepararam o terreno para que Einstein tivesse sua solução genial. Sem eles, provavelmente, a teoria da relatividade nunca teria existido.

O segundo preconceito é de que as pesquisas que se baseiam em dados estatísticos sólidos são necessariamente inqüestionáveis e que é a genialidade e idoneidade, honestidade do pesquisador que garantem a eficácia e legitimidade de sua pesquisa. Não necessariamente. A interpretação de dados, estatisticamente formulados, pode levar a, em um dado momento, por um dado pesquisador, com uma certa formação, a pensar que "sendo X portanto Y" e em outro momento, até pelo mesmo pesquisador, já com outra formação e convicção, a pensar "sendo X portanto NÃO Y". A Ciência nos permite isso, pois ela não é um dogma ou metodologia, ainda que seus pressupostos não sejam tão fluidos como querem alguns pedagogos e teóricos de teorias plurais. Ela nos permite contestar os próprios dados e a relativizar afirmações contundentes como as do autor do texto a que respondo, sem tirar o mérito do Cláudio de fazê-lo, apenas tentando mostrar um outro lado da moeda que vem sendo obscurecido por um raciocínio, que está por trás da tese da NÃO REPROVAÇÃO a qualquer custo, que tem por objetivo apenas economizar o dinheiro que deveria ser gasto com a educação para desviá-lo, a fim de atender compromissos eleitoreiros.

Assim, concordo com a tese de que a "reprovação" não seja o único caminho para melhorar o desempenho de nossos alunos, mas o fato de “aprová-los automaticamente”, eliminando absolutamente o critério do MÉRITO, também não o é. O fato explicitado pela pesquisadora de que o desempenho dos alunos não reprovados seja melhor que os dos reprovados não é suficiente para a adoção desse modelo a todo custo. Acontece que o aluno tem chegado, tanto em um, como em outro modelo, do mesmo jeito. Sua auto-estima não parece ficar melhor só porque está sendo aprovado. Tenho experienciado que eles têm até piorado, pois não internalizam critérios que o permitem se auto-avaliar e se auto-regular adequadamente. Os que apresentam problemas de aprendizagem terminam o primeiro grau com o conhecimento formal semelhante ou pior que um aluno de quarta-série ou segundo ciclo. No modelo antigo, esse aluno, provavelmente, abandonaria a escola. Estatisticamente melhorou, qualitativamente deu na mesma ou ficou pior, que resulta em desastre, pois o imobilismo de um aluno na escola (automaticamente aprovado) acaba contaminando os colegas (pois se esse aluno nada tem que fazer, alguma coisa ele fará, e atrapalhar os que estão superando-o é uma alternativa interessante de competição). O aluno continua sendo excluído pelo modelo da aprovação automática, já que após concluir os estudos será surpreendido com o fato de que a escola pouco ou nada contribuiu e até prejudicou suas chances de ter uma vida melhor. No antigo modelo, ele se viraria sozinho e buscaria uma alternativa autodidata para o seu fracasso escolar. No modelo da não reprovação, ao sair da escola, para entrar no glorioso hall das estatísticas, o aluno tem de lidar com, somado ao seu disfarçado fracasso escolar, com a frustração de ter de lidar com sua inexperiência, fomentada por anos de vagabundagem e, além disso, de aquisição de maus hábitos. Se ele aprendeu mais conteúdos que os das escolas que reprovam, não parece ser suficiente, pois, provavelmente, aprendeu muito mais coisas ruins que boas. A pesquisa deveria levar em conta ( se não levou) se os alunos ascenderam socialmente na vida, se consguiram uma colocação no mercado de trabalho melhor que os oriundos da escola que reprova, após o tempo escolar e não apenas compará-los com aqueles frustrados que insistiram ficar na escola, apesar das bombas que levaram. Esse deveria ser o foco de uma pesquisa que pretende avaliar o desempenho dos alunos!

Partir do preconceito de que as classes populares têm uma cultura que os leva a nunca se preocupar com o desempenho de seus filhos e que a reprovação só é eficiente com os filhos das classes média e alta é reproduzir o mesmo conceito, piorado, de que a "cultura da reprovação" usava para excluir os despossuídos que não alcançavam um bom desempenho nas escolas.

Aprovar automaticamente é desastroso, pois leva ao imobilismo social, das classes políticas, pois estatisticamente a educação parece ir bem, e das classes populares, pois essas não vêem (enxergam) seus filhos, nem participam ativamente da sua formação, pois eles estão trancafiados lá nas escolas, aparentemente sendo atendidos e educados, quando não estão. Aliás, estão até aprendendo coisa pior que em casa e nas ruas.

Assim, a aprovação automática de nada vale, pois a qualidade das escolas não melhorou com ela, pelo contrário. A ligeira melhora do desempenho dos alunos aprovados automaticamente não é suficiente para dizer que o modelo da reprovação está superado. O modelo da aprovação automática reconhece sua insuficiência, pois institui a reprovação no fim do ciclo, o que cria um problema ainda maior. De que adianta reprovar após três anos de fracasso? Quem poderá garantir que o aluno irá recuperar em um ano o que não aprendeu em três anos repetindo o último ano do ciclo? O fosso criado é ainda maior que aqueles que fracassaram por um ano apenas no modelo seriado.

Além do mais, o conhecimento adquirido nas fases iniciais da escolaridade é fundamental para o sucesso nas fases seguintes, pois as séries iniciais é quando a criança apresenta mais disponibilidade para aprender. Assentar alguns conhecimentos primordiais na fase inicial é fundamental para criar um alicerce sólido para permitir criar uma autonomia e autodisciplina do futuro aluno. Por isso que os ditos fracassados que abandonavam a escola, muitas vezes conseguiam se virar na vida, pois sabiam ler escrever minimamente e fazer as operações fundamentais. Caso contrário, eles aprenderiam a lidar com e superar sua deficiência mais tarde. Foi assim com meus pais e com os pais de muitos, oriundos de classes populares e de etnias socialmente discriminadas. Na época, a escola reprovava e excluía como fizeram com meus pais, que não completaram o primeiro grau. Contudo, eles já tinham autonomia e conhecimento suficiente, relativamente maior que aqueles que agora terminam o segundo grau ou se formam nas faculdades, para se virarem sozinhos, pois eles não ficaram atoa se alimentando de ilusões na escola plural. Eles aprenderam um ofício e se virariam mesmo que ficassem desempregados. Minha mãe aprendeu a costurar e meu pai foi um autodidata que estudou eletrônica em manuais escritos em espanhol já que o pouco tempo que esteve na escola permitiu que ele tivesse uma base para estudar o que quisesse aprender.

Assim, a escola não precisa apenas melhorar sua didática! Esse discurso joga para a escola e para os professores um problema que é da nação: o da INCLUSÃO SOCIAL.

É preciso criar escolas voltadas para atender as demandas de cada público, não porque eles são oriundos das classes populares que não cuidam da educação de seus filhos, mas porque qualquer aluno, independente da origem, tem demandas diferentes de acordo com suas habilidades, personalidade, experiência e a escola precisa fornecer (ou voltar a oferecer) essa variedade de formação. Além disso, a escola tem que ter profissionais, senão dentro dela, pelo menos disponíveis para oferecer um atendimento médico, psicológico, social, educacional adequado. São especialistas a que as classes abastadas têm acesso fora das escolas, que, para fazer economia, os governos afastaram do ambiente escolar após essas reformas educacionais inclusivas.

A base desse preconceito com a pesquisa que faz a atual política educacional ignorar instrumentos pedagógicos que se considera eficientes apenas para lidar com a burguesia, com a classe média em diante.
Eles ignoram que, como seres humanos, independente da origem, somos todos capazes de aprender com nossos acertos ou fracassos. O que precisamos é de um apoio e incentivo para superar os obstáculos, não eliminá-los artificialmente, pois eles não deixarão de existir por decreto de um governo, seja ele do PT, do PSDB, de que partido ou ideologia for.

O que devemos ser, é mais responsáveis com a forma de lidar com a EDUCAÇÃO, pois há muito que deixamos ela à mercê de modismos pedagógicos. As gerações não se recuperam ao fracasso de um insanidade metodológica desses modismos. Temos que dosar a aplicação dos instrumentos pedagógicos, coercivos ou não, ao indivíduo, de acordo com a sua tendência. Esses instrumentos devem estar disponíveis, à mão do professor e da escola, até mesmo, os mais radicais, o da reprovação, da suspensão, até da expulsão ou transferência, pois são os professores e profissionais que lidam diretamente com o aluno que podem verificar a adequação de sua aplicabilidade, de acordo com a condição que lhe é dada, que permita a possibilidade de recuperar ou dar seguimento adequado a educação de um aluno. Isso, nem a pesquisa, nem a estatística ou qualquer instrumento de intervenção nas escolas pode substituir - O PROFESSOR- e a escola vem fracassando ultimamente por ignorar o verdadeiro valor dele, negando-lhe autonomia e os instrumentos pedagógicos adequados para o trabalho com o aluno e infringindo sua autonomia de definir como levar sua própria formação e a do seu aluno. É mesmo uma ECONOMIA PORCA do governo essa da APROVAÇÃO AUTOMÁTICA a todo custo, pois não o leva a dar um aporte adequado à curiosidade natural dos educadores e dos alunos, só uma escola meia boca que tem ensinado a alunos e professores a fazer cada vez menos para DESatender a todos.

Professor Woodson FC

Um comentário:

Anônimo disse...

Woodson, seu texto é fantástico e expressa o que nós, "educadores pé no chão", pensamos sobre a aprovação automática. Acho que a "Escola Plural" contribuiu para que os educadores mudassem sua concepção sobre "avaliação", crescemos... Os alunos precisam também de desafios, mecanismos de puniçao e recompensa. E os desafios daqueles que aprendem? Essa parcela está excluída?