Professor, publique aqui!

Para publicar nesse blog envie E-mail p\ blogdoprofessor.postar@blogger.com Cc peutzenfc@yahoo.fr

Se for REGISTRADO publique aqui

Não é registrado no blog (registre aqui)



domingo, 28 de setembro de 2008

Na escola, mas analfabetos

Na escola, mas analfabetos

Editorial Estadão

Se o estudo recém-divulgado pelo IBGE, em vez de se chamar Síntese de Indicadores Sociais se chamasse Síntese de Indicadores de Futuro, talvez ajudasse o País a se dar conta do que o espera se o mais crucial desses indicadores no mundo contemporâneo - a educação - continuar a ser, no Brasil, a catástrofe que as pesquisas revelam com desalentadora regularidade. Fala-se em futuro não porque as escabrosas deficiências do ensino já não venham emperrando a modernização nacional e a expansão dos nossos setores econômicos de ponta. Mas sobretudo porque, na era da revolução tecnológica permanente e globalizada, sem a superação acelerada do atraso educacional a distância entre o País e as "sociedades do conhecimento" só tenderá a aumentar. O resultado previsível será o encolhimento da participação relativa do Brasil no intercâmbio internacional dos bens e serviços de alto valor agregado - o que faz a riqueza das nações neste século 21.Diga-se desde logo que a educação de massa, no Brasil, já foi pior. Avançou-se enormemente na última década em matéria de universalização do acesso à escola. Do mesmo modo, o desempenho do sistema de ensino melhorou, embora de forma muito desigual. Mas, a exemplo do que ocorre em tantos outros aspectos da realidade do País, como a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) tornou a comprovar, também na educação se avança a passos exasperantemente lentos - seja em relação às necessidades da população, seja em relação ao ritmo do progresso nas outras nações com as quais o Brasil deve ser cotejado.Entram governos, saem governos, e o poder público não consegue concentrar pelo tempo devido programas prioritários, recursos focalizados e políticas de gestão eficazes ali onde se trava de fato a mais decisiva das batalhas na frente da educação - o ensino fundamental.As conseqüências estão nos novos números do IBGE. O Brasil tem 2,4 milhões de crianças analfabetas na faixa de 7 a 14 anos. Destas, espantosos 2,1 milhões, ou 87,2% do total de iletrados, vão à escola. A proporção diminui com a idade. Mas é um escândalo que quase a metade (45,8%) dos analfabetos com 14 anos esteja na escola. "É inadmissível", reconhece a secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Maria do Pilar.É o retrato de uma falência para a qual contribuem professores despreparados e sobrecarregados, condições deploráveis de trabalho, a pobreza das famílias e o interesse insuficiente dos pais, eles próprios analfabetos ou pouco mais que isso. Mas o nervo do problema é que "as escolas simplesmente não sabem o que fazer com as crianças", como diz o consultor da Fundação Cesgranrio, Ruben Klein.Outro indicador da crise é a chamada defasagem idade-série. Em 2007, 32% dos alunos do ensino fundamental não cursavam a série em que deveriam estar. O dado melhorou em relação a 1997, quando os atrasados representavam 43% do total. Mas - novamente - o ritmo da melhoria deixa a desejar. "Os estudantes nessas condições ainda são muitos", diz o presidente do IBGE, Eduardo Nunes. O mesmo raciocínio vale para o nível de escolarização dos brasileiros com 15 anos ou mais. Em 1997, tinham, em média, 5,8 anos de escola. No ano passado, 7,3 anos. Ou seja, levou um decênio para a escolarização aumentar apenas 1,5 ano - e ficar em um patamar muito abaixo de países como a Coréia do Sul, cujo nível de vida em 1960 era semelhante ao do Afeganistão. Sem falar que a evasão no ensino médio é da ordem de 5 milhões de alunos por ano - o que reforça o nexo entre educação de baixíssima qualidade e a escassez de mão-de-obra qualificada. Em 2007, para completar, 30% dos brasileiros de 15 anos em diante eram analfabetos funcionais ou analfabetos totais. Trinta milhões de pessoas no primeiro caso, 14 milhões no segundo.É ominoso constatar que um terço da geração que desponta para o mercado de trabalho, por falta de educação básica adequada, não tem condições de ascensão social. São cidadãos que dificilmente sairão do nível de pobreza para a classe média - e muito menos para o grupo privilegiado dos "10% mais ricos do Brasil", para o que bastaria a irrisória renda de 3,5 salários mínimos (R$ 1.452,50).

Nenhum comentário: