Salve a ?seleção? dos sem nada!
A Copa do Mundo não acabaria com problemas que afligem a maioria dos torcedores brasileiros, como miséria, fome, violência, desemprego, ineficiência do sistema público de assistência médica etc. Talvez tenha sido melhor perder de vez e ?voltar para casa? a fim de enfrentar e debelar, se possível, as injustiças sociais.
Pensada desta forma, quem sabe, a derrota venha a ter, no longo prazo, algum gosto de vitória. Por outro lado, é muito difícil ver outros países ganhando e se gabando com isso.
Mas, que vença o melhor! Afinal, desde a década de 70, como tricampeões, e com o marketing do hino ?Pra frente Brasil?, muito foi encoberto sobre o destino de militantes políticos como Vladimir Herzog e Manuel Fiel Filho, dentre tantos assassinados, torturados, perseguidos políticos; além de desempregados, subnutridos, retirantes, menores abandonados.
O país parava, como hoje, e não havia olhos que não estivessem mirando aparelhos de TV. A impressão é que deixavam de existir torturadores, paus-de-arara e aqueles que se rendem e acabam vendendo a própria consciência na luta partidária e na competição do mercado.
Muito do que se fazia na oposição passou a ser incorporado pela chamada situação. Em parte porque, com o fim do regime militar, passeatas e atos públicos foram institucionalizados.
Governantes descobriram que, se colocando estrategicamente à frente de alguma campanha, aparentemente, aos olhos da opinião pública, não seriam culpados pelo mal-estar generalizado na sociedade, mas também vítimas.
A esquerda aprendeu com a direita e continuamos marchando ao som do seu refrão, de sua cantilena, de seus discursos. O ?inimigo? é comum para um país que se diz soberano e democrático: é o adversário.
?Inimigo? manifesto durante os jogos: quando não é o outro time, é o esquema tático, determinado jogador, árbitros. Mas o adversário não é tão evidente no campo político.
Não é mais a inflação? É o desemprego. Quem ou o que causa o desemprego? É a política econômica do governo, a globalização, os juros elevados, a luta entre partidos? Há quem diga, por exemplo, que o ?tetra? foi conquistado por muita sorte ou por pênalti cobrado e perdido pela Itália em 1994.
De qualquer forma, não é possível esperar com igual aflição e ansiedade que o mesmo ocorra na política. No jogo político inexiste apenas sorte, entretanto existe, inalienável, a reação do eleitorado ? da ?seleção? ? que se intensifica, buscando o melhor contra-ataque. Vale torcer por todos nós.
Salve a grande ?seleção? dos sem nada, a bandeira de quem já fez muito por este país e que recebe o descaso em troca e em consequência do pouco que pôde pensar e fazer acerca de sua sorte, por não poder parar para não morrer de fome e cansaço nas linhas de produção.
JOSÉ MARIA THEODORO / Professor
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quinta-feira, 6 de julho de 2006
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2 comentários:
Que texto bom! Salve a Seleção dos sem nada!
Jornal "O Tempo" 15/07/06
Salve a seleção
Concordo em parte com o professor José Maria Theodoro em seu artigo ?Salve a seleção dos sem-nada!?, publicado dia 6/7. Faço parte da geração que viveu sua juventude no período da ditadura militar. Enfrentei cães, cavalaria e cassetetes nas praças Sete e Afonso Arinos, em Belo Horizonte.
Para muitos, as marcas foram inesquecíveis, mais do que registradas nos livros de história, jornais e revistas. No entanto, não sou tão otimista a ponto de pensar que uma derrota possa vir a ser uma vitória. Aí está o veto do governo Lula ao aumento dos aposentados.
O inimigo é evidente no campo político. Não há mais discurso de esquerda ou de direita, de situação ou oposição, que encubra corrupção, desrespeito e frustrações. Continuamos dominados por uma política ?bipartidária? ? aqueles que estão no poder e aqueles que ainda não estão.
Enquanto isso, o futebol continua anestesiando. Tive coragem de sair da minha sala, da frente da TV, no dia do jogo Brasil X França. Próximo à minha casa, havia uma caçamba, na qual alguns vizinhos jogam o lixo de cozinha.
E pude ver, acreditem, uma senhora idosa, procurando restos de comida. E descobri que o tal de Fome Zero, programa não importa de que governo, não existe.
Antônio Carlos de Souza
Aposentado
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