Brasil - Leitora cita poeta para expressar desencanto
Modesta Trindade Theodoro / Belo Horizonte
"Lendo todas as colunas e artigos nos jornais de hoje (19/9), cresceu em mim uma impressão macabra: a impressão de que, em questão de segundos, tudo pode acontecer; ou nada, em questão de dias e meses. O mais terrível é que trabalhamos desde a mais tenra idade quando nos permitiam. Crescemos recebendo o minguado salário mensal com os descontos de todos os vales, feitos por absoluta necessidade. Continuamos a vida tendo em nossos contracheques os impostos, previdência, tantos descontos, que nos assustamos com a escassez do líquido. Por causa de uma emenda constitucional malfeita, negam a alguns quaisquer reajustes salariais anuais, e estamos entre eles. O que vemos?! Quilos de reais distribuídos aqui e ali, cargos e mais cargos de confiança. Há momentos em que, a nós, somente cabe repensar os versos do professor e poeta Augusto dos Anjos: 'O beijo, amigo, é a véspera do escarro. A mão que afaga é a mesma que apedreja. Se a alguém causa inda pena a tua chaga, apedreja essa mão vil que te afaga, escarra nessa boca que te beija!'."
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4 comentários:
Putz... Esse é demais !
Estão se lemrando dos poetas . Que bom!
Jornal Estado de Minas - Dia 23/9
José Nilo de Castro, advogado, mestre e doutor em direito público
"Que país é este?
Inolvidável é a liberação de recursos para estados e municípios pelo governo federal, em verdadeira afronta à lei eleitoral
Na década de 1970, o militarismo brasileiro, ufanista e autoritário, exortava a brasilidade da seguinte maneira: ?Brasil, ame-o ou deixe-o?. Não se têm saudades desse tempo! Amamos o Brasil, não há espaço para deixá-lo em nossos corações, embora, às vezes, diante de ocorrências das fragilidades de pessoas e da pequenez que alguns brasileiros fazem de nossas instituições, o ?Vou-me embora pra Pasárgada? passa a ser um de nossos projetos. Por quê? Porque, é bem verdade, não veremos ?País nenhum como este?, pela relembrança de certos fatos constantes de nossas instituições públicas.
A campanha eleitoral deste ano baliza essa reflexão. Vejam-se alguns exemplos: sem olvidar a querela da verticalização, em que se desgastou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e verticalização, na minha opinião, constitui esgalho de autoritarismo; tem-se cristalino descumprimento da Lei Geral das Eleições, que veda expressamente certas condutas dos agentes públicos. Assim, o governo federal baixou medida provisória aumentando remuneração dos servidores públicos federais, inclusive militares, no período eleitoral, e não se fez nada, por conveniência dos interessados. Quem impugnaria o ato normativo se ele traz benefícios para a categoria de servidores públicos? Da mesma forma, no país, nunca se pagou antecipadamente a metade do 13º salário aos aposentados. Esse ano, sob o processo eleitoral, o governo federal o fez, e quem gritou e vai gritar, como partes legitimadas pela lei, impugnando esse ato ilegal e conseqüentemente a candidatura-presidente? Ninguém. Não se deve esquecer igualmente o programa, no ano eleitoral, porque nos outros anos havia já a necessidade, das ?casquinhas de asfalto? e do recentíssimo pacote habitacional? Nada se faz no sentido de se responsabilizar quem desrespeita a legislação eleitoral. Que país é este?
Inolvidável, por outro lado, é a liberação de recursos para estados e municípios pelo governo federal, em verdadeira afronta à lei eleitoral, o que desequilibra as candidaturas no processo sucessório. Nada, porém, se faz ou se tem feito para coibir esses abusos, na Justiça Eleitoral, e a Justiça não se provoca a si mesma, salvo, aqui, a iniciativa heróica do Tribunal de Contas da União (TCU), que, em medida cautelar, determinou o bloqueio de repasses de R$ 10,8 milhões do governo federal, porque esses recursos repassados ilegalmente poderiam ser utilizados para fins eleitorais. É o uso da máquina governamental, e o preço que se paga pela re-eleição. Quantos prefeitos reeleitos estão perdendo mandatos pelo mau uso de seus respectivos governos, quando da campanha eleitoral de 2004?
Outras inquietações: noticia o EM (12/9) que o Ministério Público da União tem projeto de manutenção de servidores estranhos à carreira que custará aos cofres públicos R$ 148 milhões até 2008, proposta essa que aumenta os gastos com servidores sem concurso. Estranhável esse fato por duas razões: a uma, é o Ministério Público defensor do patrimônio público e social da República; e, a duas, é o Ministério Público corajoso combatente das medidas que favoreçam o apadrinhamento e de outras práticas imorais como o nepotismo e o inchaço das administrações públicas (?casa de ferreiro, espeto de pau?). Há, ainda, aqui e ali, em órgãos públicos, federais e estaduais (os municípios são mais controlados pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público, inclusive pelo controle social, instrumento eficiente da democracia direta) a cultura de gastos com pessoal, na intimidade dos órgãos necessários, mas que se criam sem planejamento orçamentário, o que tem desequilibrado a execução orçamentária, num atentado ao princípio do planejamento das despesas públicas. Que país é este, com tantos pecados mortais na gestão pública? País de contrastes e da hipocrisia! ... e o fim de nossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos. É conhecê-lo então pela primeira vez? (T. S. Eliot), sem se esquecer, porém, da mensagem de Augusto dos Anjos: ?Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera?."
Estão se lemrando dos poetas . Que bom!
Jornal Estado de Minas - Dia 23/9
José Nilo de Castro, advogado, mestre e doutor em direito público
"Que país é este?
Inolvidável é a liberação de recursos para estados e municípios pelo governo federal, em verdadeira afronta à lei eleitoral
Na década de 1970, o militarismo brasileiro, ufanista e autoritário, exortava a brasilidade da seguinte maneira: ?Brasil, ame-o ou deixe-o?. Não se têm saudades desse tempo! Amamos o Brasil, não há espaço para deixá-lo em nossos corações, embora, às vezes, diante de ocorrências das fragilidades de pessoas e da pequenez que alguns brasileiros fazem de nossas instituições, o ?Vou-me embora pra Pasárgada? passa a ser um de nossos projetos. Por quê? Porque, é bem verdade, não veremos ?País nenhum como este?, pela relembrança de certos fatos constantes de nossas instituições públicas.
A campanha eleitoral deste ano baliza essa reflexão. Vejam-se alguns exemplos: sem olvidar a querela da verticalização, em que se desgastou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e verticalização, na minha opinião, constitui esgalho de autoritarismo; tem-se cristalino descumprimento da Lei Geral das Eleições, que veda expressamente certas condutas dos agentes públicos. Assim, o governo federal baixou medida provisória aumentando remuneração dos servidores públicos federais, inclusive militares, no período eleitoral, e não se fez nada, por conveniência dos interessados. Quem impugnaria o ato normativo se ele traz benefícios para a categoria de servidores públicos? Da mesma forma, no país, nunca se pagou antecipadamente a metade do 13º salário aos aposentados. Esse ano, sob o processo eleitoral, o governo federal o fez, e quem gritou e vai gritar, como partes legitimadas pela lei, impugnando esse ato ilegal e conseqüentemente a candidatura-presidente? Ninguém. Não se deve esquecer igualmente o programa, no ano eleitoral, porque nos outros anos havia já a necessidade, das ?casquinhas de asfalto? e do recentíssimo pacote habitacional? Nada se faz no sentido de se responsabilizar quem desrespeita a legislação eleitoral. Que país é este?
Inolvidável, por outro lado, é a liberação de recursos para estados e municípios pelo governo federal, em verdadeira afronta à lei eleitoral, o que desequilibra as candidaturas no processo sucessório. Nada, porém, se faz ou se tem feito para coibir esses abusos, na Justiça Eleitoral, e a Justiça não se provoca a si mesma, salvo, aqui, a iniciativa heróica do Tribunal de Contas da União (TCU), que, em medida cautelar, determinou o bloqueio de repasses de R$ 10,8 milhões do governo federal, porque esses recursos repassados ilegalmente poderiam ser utilizados para fins eleitorais. É o uso da máquina governamental, e o preço que se paga pela re-eleição. Quantos prefeitos reeleitos estão perdendo mandatos pelo mau uso de seus respectivos governos, quando da campanha eleitoral de 2004?
Outras inquietações: noticia o EM (12/9) que o Ministério Público da União tem projeto de manutenção de servidores estranhos à carreira que custará aos cofres públicos R$ 148 milhões até 2008, proposta essa que aumenta os gastos com servidores sem concurso. Estranhável esse fato por duas razões: a uma, é o Ministério Público defensor do patrimônio público e social da República; e, a duas, é o Ministério Público corajoso combatente das medidas que favoreçam o apadrinhamento e de outras práticas imorais como o nepotismo e o inchaço das administrações públicas (?casa de ferreiro, espeto de pau?). Há, ainda, aqui e ali, em órgãos públicos, federais e estaduais (os municípios são mais controlados pelo Tribunal de Contas e pelo Ministério Público, inclusive pelo controle social, instrumento eficiente da democracia direta) a cultura de gastos com pessoal, na intimidade dos órgãos necessários, mas que se criam sem planejamento orçamentário, o que tem desequilibrado a execução orçamentária, num atentado ao princípio do planejamento das despesas públicas. Que país é este, com tantos pecados mortais na gestão pública? País de contrastes e da hipocrisia! ... e o fim de nossa viagem será chegar ao lugar de onde partimos. É conhecê-lo então pela primeira vez? (T. S. Eliot), sem se esquecer, porém, da mensagem de Augusto dos Anjos: ?Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera?."
Os diferentes versos citados pela professora Modesta Trindade e pelo advogado José Nilo de Castro, no jornal Estado de Minas, fazem parte do poema "Versos íntimos" do único livro (Eu) do professor/escritor Augusto dos Anjos (1884 - 1914).
VERSOS ÍNTIMOS
"Vês?! Ninguém assistiu ao formidável / Enterro de tua última quimera. / Somente a Ingratidão - esta pantera - / Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama vil que te espera! / O Homem, que, nesta terra miserável, / Mora, entre feras, sente inevitável / Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro! /O beijo, amigo, é a véspera do escarro, / A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga, / Apedreja essa mão vil que te afaga, / Escarra nessa boca que te beija!"
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