Luiz Lyrio
Professor de história /Bairro São Paulo
É incrível como tem despencado a qualidade das novelas. O autor de "Páginas da Vida" usa e abusa da ingenuidade do povo. Aos ricos e bem-sucedidos Manoel Carlos, Jayme Monjardim e atores de "Páginas da Vida", eu digo que é muito bonito ficar defendendo a importância do "ser" e sua preponderância sobre o "ter".
Só que é duro "ser" mal vestido, andar pendurado nos ônibus, não ter assistência médica decente etc. A partir de amanhã, não assisto mais "Páginas da Vida". A gota d'água foi a frase imbecil do corno que quer se casar com a Telminha: "O magistério é um apostolado". Apostolado uma pinóia! O magistério é uma carreira, uma profissão.
Ninguém estuda tanto, sai de casa todo dia e estraga a maior parte da sua vida tolerando crianças mal educadas, enfrentando traficantes e drogados, sendo assaltado, ameaçado de morte, maltratado no fim de carreira por diretores de escolas e médicos peritos arrogantes para exercer um apostolado.
Nenhum professor hoje pensa assim. Nem aquele que trabalha no mais longínquo rincão. Todo professor quer ganhar bem e ter uma vida digna.
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sábado, 30 de dezembro de 2006
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6 comentários:
A carta acima foi publicada no dia 29/12/2006.
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Carta
Jornal O Tempo
Dia 30/12
Sobre a missiva "Apostolado" creio que o autor tem lá seus rasgos de razão, mas novela é novela, tomando-as por ficcionais com elementos reais ou com base na realidade, mesmo que não seja a nossa. Mas o missivista sabe disso porque é escritor. Enquanto tal como não sabê-lo? Primeiro: no caso não há frases imbecis. Há, sim, pensamentos, idéias, ideais que não se ajustam aos nossos pensares. Professores podem seguir tal qual apóstolos divulgando o evangelho?! Assim como pensa o missivista, creio que não. O sistema não permite isso, mesmo que alguém o diga. Mas pensemos em outros termos. No entendimento do missivista "O magistério é uma carreira, uma profissão. Ninguém estuda tanto, sai de casa todo dia e estraga a maior parte da sua vida tolerando crianças mal-educadas,...".
Estive professora por muitos anos, aposentei-me no ano passado, doente. Nunca "tolerei" crianças mal-educadas, porque a função do professor não é "tolerar" no sentido que foi colocado. Quando os problemas se apresentavam, buscávamos ajuda para tentar resignificá-los. Nenhum professor "estraga" sua vida "tolerando" crianças. São estudantes, não empecilho. Fazem parte de nossa carreira, da profissão que escolhemos. Sem eles, para que escolas? Antes de escolhermos sabíamos que conviveríamos com um grande número de pessoas diferentes. Bem comportadas ou não, mas sabíamos. Professores têm objetivos, dentre eles como lidar com as dificuldades apresentadas. Se alguém transforma sua profissão em "tolerância" deveria repensá - la o quanto antes para não pecar e deixar de ser o profissional de peso que sempre foi. Em não o sendo não deveria estar na escola nem enquanto desvio de função, porque será enxovalhado, ficará frustrado, mais doente ainda por ter sido jogado para escanteio. E quem irá "tolerar" tal situação? Faça como Nietzsche. Afaste-se enquanto é tempo caso insista nas afirmações colocadas, mas só o faça após consultar alguém experiente em previdência, caso contrário perderá uma vida de trabalho. Só assim conseguirá a dignidade merecida.
Modesta Trindade Theodoro
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Concordo plenamente com Modesta, ser professor é uma profissão. Profissão essa que escolhemos, nao nos foi imposta. Fico indignado com professores que sempre dizem não estar mais aguentando "esses alunos" ou "essa escola". Se há pessoas que pensam assim, deveriam mudar de profissao enquanto há tempo e nao ficar se lamentando. Escola realmente é desafio, é mudança de pensamento e de postura frente aos desafios que nos são impostos a cada dia.
Jornal O Tempo
Sábado, 06 de Janeiro de 2007, 00h01
Magistério e apostolado
Luiz Lyrio
Professor de história
Bairro São Paulo
A professora Modesta Trindade Theodoro replica uma crítica que fiz a um personagem da novela ?Páginas da Vida? que afirmou que ?o magistério é um apostolado?. Ela diz que novela é ficção. Acontece que conheço as formas sutis de se aproveitar a ficção para incutir imbecilidades nas cabeças das pessoas.
Um escritor de novelas cujos textos chegam a milhões de pessoas é uma pessoa muito poderosa. Nós, professores, somos sim obrigados a tolerar crianças mal educadas.
A extensão da escolaridade a toda a população levaram à escola pública um imenso alunado que não recebeu de casa o preparo para viver em sociedade. Respeito, higiene e disciplina, tudo, hoje, se ensina na escola.
O professor tem de descobrir sozinho como trabalhar, já que a faculdade o prepara apenas para ensinar uma área do conhecimento. A professora usa o termo "resignificar" os problemas. Nunca escutei um professor que enfrenta uma sala de aula no seu dia-a-dia usando esse termo.
Resignificar o quê na hora em que o aluno o ameaça? Testemunho coisas absurdas que acontecem hoje nas escolas. Culpa de quem? Do pessoal que fica com esse papo de "apostolado". Ouvi muito esse discurso na época da ditadura, quando reclamava do salário.
Diziam-nos que entráramos para a profissão sabendo que professor ganhava pouco. Portanto, quem não estivesse satisfeito que procurasse outra profissão. Tenho 57 anos e minhas doenças podem me levar à morte de uma hora para outra.
Não dá para abandonar meus empregos. O que eu quero mesmo é me aposentar. Só que uma simples licença médica depende de um interrogatório policialesco de um médico perito arrogante. Aposentadoria por invalidez, só para os mais "sortudos"...
Observem o que o professor disse em carta ao jornal
"A extensão da escolaridade a toda a população levaram à escola pública um imenso alunado que não recebeu de casa o preparo para viver em sociedade."
Temos que deixar claro para a população que é um pensamento individual. Certos pensamentos podem nos colocar em maus lençóis. Que ele procure um médico com urgência. Afinal, não podemos sair falando que os alunos são bichos, irracionais.
Esse professor Luiz não precisa de médico. Precisa de consciência. Já que é escritor, devia saber o que escreve para jornal. É por isso que a população fica contra a gente. Se alguém achar que ele fala por todos como fazer com nossas campanhas.
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