últimas da crise - coincidência?

OBSERVE O VALOR CITADO: R$15,5 MILHÕES.

11/08/2005 - 21h17
Marcos Valério diz que foi usado pelo governo e pelo PT
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ROSE ANE SILVEIRA
da Folha Online, em Brasília

Em um depoimento que durou pouco mais de duas horas, o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou nesta quinta-feira à CPI do Mensalão que foi "usado e cuspido fora" pelo governo e pelo PT.

Ele foi à comissão para entregar os disquetes contendo toda a contabilidade de suas empresas, dele e da sua esposa nos últimos cinco anos. Ao chegar, Valério aceitou depor novamente na CPI. Ele já havia falado na última terça-feira.

"Fui usado e cuspido. Jogado fora. É mais fácil falar em Valerioduto, do que em Dirceuoduto ou PToduto. É mais fácil acusar um empresário de Minas do que o marqueteiro do presidente da República."

Valério desmentiu o publicitário Duda Mendonça, que em depoimento à CPI dos Correios, confirmou que recebeu dinheiro vivo e que alguns repasses da SMPB, de Marcos Valério, vinham de contas do exterior. Em uma das remessas, Duda confirmou ter recebido R$ 300 mil em dinheiro. Segundo ele, os recursos vinham em "pacotes".

"Esse dinheiro era claramente pago de caixa dois, dinheiro por fora. Não podíamos emitir nota, mas não somos bobos. Era dinheiro de caixa dois", disse Duda. Por outro lado, Valério afirmou na CPI do Mensalão que os R$ 15,5 milhões pagos a Duda em sua maioria tiveram recibo. Ele negou que tenha sido o autor dos depósitos nas contas do marqueteiro no exterior.

Sobre a entrega do dinheiro para Duda e sócia Zilmar Fernandes da Silveira, Valério afirmou: "A autorização foi do senhor Delúbio Soares [ex-tesoureiro do PT]. Meu primeiro contato com a senhora Zilmar foi em um hotel em São Paulo, na presença do Delúbio."

Segundo Valério, ele manteve vários contatos com Zilmar, em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. O empresário garantiu que esses R$ 15,5 milhões são "recursos derivados" exclusivamente do dinheiro tomado por ele junto aos bancos e fazem parte do montante de empréstimos não assumidos pela cúpula do PT. "Não tenho nenhum conhecimento ou poder para fazer alguém abrir conta no exterior. Por que faria isso?"

Ainda em seu depoimento, Valério disse que nunca foi incomodado por agentes financeiros do governo devido à sua movimentação bancária. Ele sacou ao todo R$ 55 milhões em empréstimos de caixa dois ao PT e afirmou que era justamente por ser destinado para o partido o dinheiro e que ele estava tranqüilo sobre sua situação junto às autoridades monetárias.

As novas declarações provocaram a apresentação de requerimentos de convocação do diretor de fiscalização do Banco Central, Paulo Sérgio Cavalheiro, e do presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Antônio Gustavo Rodrigues.

Acareação

Valério aceitou fazer uma acareação com Duda Mendonça. Requerimento neste sentido foi encaminhado à pelo deputado Julio Redecker (PSDB-RS) e deve ser votado na próxima terça-feira.

No mesmo dia, os integrantes da CPI do Mensalão deverão escolher o novo vice-presidente da Comissão, já que o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que ocupava o cargo, renunciou hoje após ter confessado que manteve um encontro reservado com Marcos Valério em seu carro na última terça-feira. Pimenta reconheceu que seu gesto foi impróprio.